Sacerdote cristão testemunha que jihadista não conseguiu decapitá-lo: “Quem é você? Não consigo mexer o facão”

Em julho de 2007, o padre Abuna decidiu visitar os pais, cristãos, que viviam em Mosul, no Iraque, e a jornada para chegar ao país tinha que ser feita de carro: “Não havia possibilidade de ir de avião para visitar a minha família. Era proibido. O meio de transporte era o carro. Meu plano era chegar a Bagdá e ir de lá para Mossul, onde viviam os meus pais”, contou.

A viagem foi feita na companhia de muçulmanos e segundo o padre, “o motorista tinha medo por causa da situação no Iraque”, mas mesmo assim, seguiu em frente.

“Uma família, formada pelo pai, a mãe e uma menininha de dois anos, pediu para viajar conosco. O taxista me falou do pedido e eu não vi nenhum inconveniente. Eram muçulmanos. O motorista era cristão. Ele disse que havia lugar no carro e que eles podiam ir conosco. Paramos num posto de combustível e outro homem jovem, muçulmano, também pediu para ir junto até Mossul. Como ainda restava um assento, ele também foi aceito”, relembrou Abuna.

De acordo com informações do portal Religión en Libertad, a fronteira entre a Jordânia e o Iraque só abre quando amanhece, e por isso, os viajantes tiveram que aguardar por horas. “Quando o sol se levantou, uma fila de cinquenta ou sessenta carros foi avançando lentamente, todos juntos”, narrou.

“Seguimos a viagem. Depois de mais de uma hora, chegamos a um lugar onde estavam fazendo uma inspeção. Preparamos os passaportes. O motorista nos disse: ‘Tenho medo desse grupo’. Antes era um posto militar, mas uma organização terrorista islâmica havia matado os militares e tomado o controle do local”, disse o padre.

Ao ser identificado como um sacerdote cristão, Abuna Nirwan foi obrigado a prestar esclarecimentos: “Levaram os passaportes a um escritório. A pessoa voltou, se dirigiu a mim e disse: ‘Padre, vamos continuar a investigação. Podem ir até o escritório mais à frente. Depois já é o deserto’. Caminhamos uns quinze minutos até chegar à cabana a que eles se referiam”.

A tensão começou a subir assim que o grupo de viajantes chegou ao “escritório”, pois foram recebidos por soldados do grupo terrorista. O mesmo grupo, anos depois, viria a se juntar a outras milícias extremistas sob a bandeira do Estado Islâmico.

“Quando chegamos à cabana, saíram dois homens de rosto coberto. Um deles tinha uma câmera em uma mão e um facão na outra. O outro era barbudo e estava segurando o Corão. [Um deles] se dirigiu ao rapaz que vinha conosco, o agarrou por trás com os braços e o matou com o facão”, descreveu.

Depois do jovem muçulmano, era chegada a hora do sacerdote cristão: “Amarraram as minhas mãos por trás das costas e disseram: ‘Estamos gravando isto para a Al-Jazeera. Quer dizer algumas palavras? Tem menos de um minuto’. Eu respondi: ‘Não, só quero orar’. Eles me deram um minuto”.

O padre fez sua prece rapidamente, aterrorizado, e logo em seguida foi posto de joelhos: “[O carrasco] me disse: ‘Você é clérigo. É proibido que o seu sangue caia no chão porque é sacrilégio'”, relembrou, acrescentando que o extremista saiu para buscar um balde. “Não sei o que orei naquele momento. Senti muito medo”, disse.

Um trecho da oração o padre diz se lembrar, e foi um pedido para livrá-lo da morte certa: “‘Se é preciso que nosso Senhor me leve ainda jovem, estou pronto. Mas, se não é, eu peço que ninguém mais morra’. Ele pegou a minha cabeça, segurou meu ombro com força e levantou o facão”, contou.

“Uns instantes de silêncio e de repente ele perguntou: ‘Quem é você?’. Respondi: ‘Um frade [franciscano]’. ‘E por que eu não consigo mexer o facão? Quem é você?’. E, sem me deixar responder, prosseguiu: ‘Padre, você e todos voltem para o carro’. Fomos de volta até o veículo”, testemunhou Abuna Nirwan.

Essa experiência, segundo o padre, mudou sua vida: “Daquele momento em diante, eu perdi o medo da morte. Sei que um dia morrerei, mas agora é mais claro que vai ser só quando Deus quiser. Desde aquele momento, eu não tenho medo de nada nem de ninguém”, salientou.

“O que vier a me acontecer é porque é vontade de Deus e Ele vai me dar a força para acolher a Sua cruz. O importante é ter fé. Deus cuida dos que acreditam n’Ele”, concluiu.

GospelMais

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