Cristo e os discípulos de Emaús

“E aconteceu que, indo eles falando entre si, e fazendo perguntas um ao outro, o mesmo Jesus se aproximou, e ia com eles. Mas os olhos deles estavam como que fechados, para que o não conhecessem.” (Lucas 24.15-16)

Dois discípulos até então desconhecidos na narrativa dos evangelhos decidem seguir um novo caminho após a confirmação da morte de Jesus. Eles andam amedrontados e conversam e se interrogam sobre o fato. E o inusitado acontece: Jesus chega perto e anda com eles.

Lucas, o narrador, diz que os seus olhos não podiam conhecê-lo. Era o momento de dividir com um imigrante a maior dor e a maior incógnita que havia em seu coração. Jesus, o maior imigrante deste mundo, sem ter onde reclinar a cabeça, foi misteriosamente acolhido por dois dos seus discípulos.

Aqui já aprendemos duas lições: 1) o discípulo de Jesus é alguém do caminho, do encontro, do diálogo e do compartilhamento da vida e 2) o discípulo de Jesus acolhe imigrantes. Sim, ele acolhe, mas há uma tensão finíssima entre a necessidade de acolhimento e a manutenção das leis de imigração de sua pátria, para que não haja totalmente desconexo do espírito do evangelho.

O diálogo com o forasteiro é sobre o forasteiro. Eles não sabiam, ainda.

Estão conversando sobre a perda daquele que simbolizava, representava e era a única esperança de vida para eles. Estavam falando da dor da perda, da impotência no dia da angústia e das sombras da morte que rodearam aquela sexta-feira nebulosa, sofrível e agonizante. E dor, não havia ninguém melhor para conversar do que ele.

Os discípulos, mesmo sem saber quem era o imigrante, decide recebê-lo em sua pousada. Mistério para esta temporalidade. Não dá para receber todas as pessoas, mas não dá para não receber ninguém. Pois não é uma questão de precaução social somente, mas de ser um agente da graça ou não.

(Pausa para a questão da imigração): fazer uma defesa de ser a favor ou contra é pouco; ficar em cima do muro é mais seguro, mas temos uma boa alternativa que é ser igreja aos que mais precisam, e isso vai sempre incorrer num risco de lidar com a intolerância de todo o tipo de parte, mas a nossa salvação estará no fato de que não partirá de nenhum de nós.

Tal questão não pode ser tratada em tão poucas linhas, de modo que espero ter a oportunidade de abordar com mais calma este dilema do homem deste século.

A narrativa termina com um momento litúrgico, mas profundamente significativo: pão e vinho. Eles celebram a comunhão e o forasteiro, ao partir o pão, faz arder os corações e deles desaparece fisicamente. Mistério misturado com misericórdia. Amor revelado. “Estou vivo e entre vocês”. “Comam o pão da propiciação, pois eu propiciei com o meu corpo ante o Pai a redenção de vocês”.“Bebam o vinho, pois eu fiz um novo e vivo caminho, que não dá para Emaús, mas para Jerusalém… uma nova Jerusalém.”

Então os discípulos converteram (deram um giro de 180 graus) o caminho deles e voltaram para a antiga Jerusalém. Lá, provavelmente, foram revestidos de poder. E hoje, muito provavelmente, devem estar no lugar de descanso do Pastor dos pastores, aguardando a entrada triunfal na cidade do Rei, para habitar para sempre na casa que ele preparou para aqueles que o amam e o seguem, custe o que custar.

Por Maycson Rodrigues

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